

É com grande alegria e gratidão que participo deste concurso internacional de arte dedicado ao vitiligo. Quando comecei minha pesquisa, a ideia de criar a partir e através da minha pele era algo totalmente novo para mim. Nunca imaginei que um dia essa jornada me levaria a participar de um evento como o Dia Mundial do Vitiligo 2025, em Toronto, Canadá.
Ausências e presenças compõem minha pele. Ilhas de pigmento, mares de manchas, continentes de incertezas. Assim como nos movimentos da diáspora africana — com os fluxos de diferentes povos do continente africano, que chegaram às Américas carregando conhecimento e tecnologias — minha pele mapeia uma história de transformação e reinvenção. Este projeto experimenta o vitiligo como um mapeamento destas rotas.
Utilizo os contornos das manchas para compor cartografias alternativas, buscando novas perspectivas para essa condição de pele que causa despigmentação. Na obra Travessia, combino fotografia e colagem digital, impressas em fine art sobre tela. O material evoca a flexibilidade e a maciez da pele.
Como em uma utopia afrofuturista, esta imagem repigmenta simbolicamente os vazios. E talvez, ao fazê-lo, também possa reativar a melanina — e nossa capacidade coletiva de imaginar e nos reinventar.


